Julho 7

Black Mamba Unit | Mulheres pela conservação de rinocerontes

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Por Nathalia Marangoni em
Julho 7, 2017

A África do Sul é lar de cerca de 80% da população de rinocerontes do mundo: dados divulgados em 2016 apontam que mais de 20 mil animais vivem no país, boa parte deles no Kruger National Park, uma das mais aclamadas reservas de animais do continente.

Os rinocerontes são extremamente cobiçados por caçadores furtivos, graças aos seus chifres; muitas pessoas na China e no Vietnã acreditam que eles têm propriedades curativas, espirituais e medicinais. São prescritos como solução para toda sorte de problema, desde câncer à falta de libido, o que eleva seu valor no mercado negro.

A caça furtiva, impulsionada não só pela demanda asiática, mas também pela extrema pobreza em que vivem as comunidades próximas às áreas de conservação, especialmente em Moçambique, faz com que os rinocerontes estejam, atualmente, próximos à extinção. Há apenas 5 espécies no mundo: 3 nativas da Ásia e 2 nativas do continente africano – o rinoceronte-branco e o rinoceronte-negro.

Ainda que os números de caça furtiva tenham diminuído 12% na África do Sul entre 2015 e 2016 – algo que a ministra do Meio Ambiente sul-africana, Edna Molewa, atribui a um número maior de detenções e condenações pelos tribunais – ainda existe muito a ser feito para acabar com a guerra contra os caçadores furtivos e evitar que os animais sejam mortos cruelmente ano após ano.

Para isto, há pessoas dispostas a pegarem em armas – algumas unidades anti-poaching travam sérios embates contra os caçadores. Mas também há unidades que utilizam outros recursos para proteger a vida selvagem. Entre elas, está a Black Mamba Anti-Poaching Unit, a primeira unidade anti-caça furtiva na África do Sul composta majoritariamente por mulheres.

Membros da Black Mamba Unit posam em meio à natureza
Foto: Lee-Ann Olwage

Fundada em 2013 pela Transfrontier Africa NPC, as Black Mambas protegem atualmente todos os limites dos 52.000 hectares da Reserva Natural Balule, parte do Greater Kruger National Park. São 32 mulheres e 2 homens que acreditam que há mais benefícios em conservar os rinocerontes do que matá-los, servindo como grandes exemplos para as comunidades locais.

A filosofia da “Janela Quebrada” da Black Mamba Unit – nome que remete à mamba-preta, uma das cobras mais venenosas da África, e que ficou ainda mais famosa por conta da personagem de Uma Thurman em “Kill Bill” – consiste em tornar a área de conservação de Balule “o local mais indesejável, mais difícil e menos lucrativo para perseguir qualquer espécie”.

E tem dado resultado: entre 2013 e 2016, os esforços da unidade reduziram em 75 por cento os incidentes de caça furtiva na reunião. Entre as atividades promovidas pela Black Mamba estão patrulhamento da região, identificação e destruição de acampamentos de caçadores e locais em que a carne de animais caçados são cozidas (bush meat kitchens), monitoramento de rinocerontes e a retirada de animais de armadilhas.

Além disso, promovem programas educacionais como o “The Bush Babies Environmental Education Program”, onde visitam escolas semanalmente para falar sobre a importância da conservação para as crianças. O sucesso da Black Mambo Unit é tamanho, que as autoridades planejam replicar o seu modelo, criando outro grupo feminino para proteger outras áreas. Para Siphiwe Sithole, uma das corajosas mulheres que compõem a unidade, a iniciativa partiu de uma ótima ideia de Craig Spencer, diretor de Balule:

Membros da Black Mamba Unit em uniformes camuflados caminham
Foto: Lee-Ann Olwage

“Ele percebeu que existiam homens, rangers armados, protegendo o parque, mas ainda assim os rinocerontes estavam sendo mortos e muitos animais estavam sendo caçados. Eu acho que ele pensou ‘deixe-me começar algo e envolver mulheres nisso e ver o que acontece’, porque mulheres são mais leais aos seus trabalhos, elas são apaixonadas pelo que fazem. Eu acho que a ideia é muito boa e ajuda a reduzir o padrão de pobreza, porque essas mulheres que estariam em casa vão ter uma ocupação.”

De acordo com o Guardian, as Black Mambas vêm de comunidades em vulnerabilidade socioeconômica situadas nas fronteiras do parque. Todas receberam treinamento paramilitar e educação em vida selvagem. Trabalham junto a 29 guardas armados e um time de inteligência que busca parar os caçadores, antes que eles consigam matar os animais.

Para conhecer mais sobre os esforços de conservação da Black Mamba Anti-Poaching Unit visite o site blackmambas.org ou assista ao documentário “Helping Rhinos”, da diretora e conservacionista Anneka Svenska.


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Sobre o autor

Nathalia Marangoni

Nascida e criada na cidade mais populosa da América Latina, São Paulo, Nathalia tinha 13 anos quando ouviu pela primeira sobre Cape Town em um programa de TV. Depois de estudar Jornalismo, ela trabalhou por alguns anos em uma ONG dedicada ao empoderamento e empreendedorismo feminino, o que lhe permitiu viajar por diferentes regiões do Brasil, entrevistando e fotografando mulheres muito fortes. A experiência levou Nathalia a se sentir confiante o suficiente para se mudar de sua cidade natal e, finalmente, ver Cape Town com seus próprios olhos: um desejo antigo que dividiu águas em sua vida.

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