Criado em 2007 pela Africa Burns Creative Projects Non Profit Company, o AfrikaBurn nasceu com o propósito de ser uma versão sul-africana do festival de contracultura Burning Man, que acontece há mais de 30 anos no Black Rock Desert, em Nevada, nos Estados Unidos.
Seguindo os moldes da iniciativa norte americana, o AfrikaBurn reúne participantes – também conhecidos como burners – na área semi-desértica de Tankwa Karoo, no Karoon, em torno de atividades variadas que incluem performances, música, dança, acampamentos temáticos, veículos mutantes e estruturas de fogo.
Muito mais do que um festival de artes ou cultura, o AfrikaBurn tem 11 princípios norteadores, sendo notório por incentivar interações sociais colaborativas entre seus participantes. Entre estes princípios, chama a atenção o “ato de presentear”, inspirado na gift economy (economia da doação).
E o que esse fundamento significa? Que com exceção de gelo, nenhum produto pode ser vendido ou comprado no festival – os burners podem apenas dar presentes uns aos outros, sem esperar nada em troca. E por presente entende-se não apenas itens materiais, mas também artes, performances ou mesmo o compartilhamento de algum conhecimento. Estes princípios são abraçados com intensidade pelos burners, o que torna o AfrikaBurn uma experiência ainda mais utópica e “de outro mundo”.
Afrikaburn aos olhos de uma brasileira
A consultora de viagens da Rhino Africa, Michelle Juni, esteve pela primeira vez no festival em 2017 e compartilha conosco a sua experiência.
Se alguém te perguntasse “O que é o AfrikaBurn?”, como você o descreveria?
O AfrikaBurn é um festival que preza pela colaboração e compartilhamento de criatividade e idéias. É um lugar onde, por pelo menos 7 dias, você pode se expressar livrememente.
Como foi participar pela primeira vez do AfrikaBurn?
Muitos amigos sempre me falaram que o AfrikaBurn era um evento, bem, uma experiência sensacional e agora entendo o porquê. O Afrika Burn é um tanto mágico: a experiência de estar no meio do deserto no Karoo (que tem o pôr do sol mais bonito que já vi), apreciando uma construção de arte mais bonita do que a outra e compartilhando experiências com pessoas que estão lá pelo mesmo motivo que você, não tem preço.
Você já tinha participado de algum festival parecido antes?
Nunca! Por isso estava tão curiosa para descobrir qual era o encanto deste festival!
Conte como foram suas primeiras horas no festival.
Eu diria que as primeiras 24 horas são bem impressionantes! Você vê muitas coisas diferentes e tem que se ajustar um pouquinho depois de chegar da “civilização” (risos). Na chegada, todas as pessoas que estão participando do festival pela primeira vez tem que tocar um gongo – isso foi bem divertido! O fato de não haver nenhuma recepção de celular também é um baque, pois vamos ser honestos, todo mundo está acostumado a estar conectado 24 horas por dia. No dia seguinte já estava climatizada e até gostando do fato de estar isolada no meio do deserto.
Uma curiosidade que muitas pessoas têm sobre o AfrikaBurn é: como é a estrutura do festival para chuveiros e banheiros públicos?
Existem 2 tipos de baheiros – os químicos, normais, mas também banheiros públicos que são privativos ecologicamente corretos, que tem uma proteção em volta da cabine, mas que não tem nenhum tipo de elemento que ajude a decomposição química. No começo parece ser um tal estranho, mas depois você se acostuma. Fora isso, em termos de estrutura, a única coisa que está á venda no festival é gelo e existe uma unidade médica para emergências.
Sabendo que um dos princípios do festival é a gift economy, que itens você trouxe consigo para vivenciar essa experiência?
Nosso grupo levou uma bolsa cheia de presentinhos como baralho, isqueiros, luvas, entre outros. Nós saíamos com essa bolsa presenteando pessoas que conhecemos ao longo dos dias.
Qual foi a parte mais incrível do festival para você?
O foco musical do festival é música eletrônica. As principais pistas de dança tocam este tipo de múscia até altas horas da manhã. Na última noite, nós pegamos uma carona em um dos “Carros Mutantes” (veículos que os participantes constroem para o AfrikaBurn com a finalidade de dar carona para as pessoas, já que a área do festival é grande) e neste carro, estava tocando Funk, Blues e Soul! Isso foi maravilhoso, pois foi uma experiência diferente das batidas que estavámos ouvindo nos dias anteriores. Ficamos passeando neste carro por horas, vendo muitas construções e partes do AfrikaBurn que ainda não havíamos visto.
Quantos dias você ficou por lá? Foi com um grupo de amigos ou sozinha?
Eu fiquei no AfrikaBurn por 5 dias e fui com um grupo de 12 amigos. Nós nos preparamos super bem e a nossa tenda ficou bem legal, pois decoramos tudo e tínhamos até um chuveiro portátil. Tenho certeza que a minha experiência no AfrikaBurn foi maravilhosa por conta da companhia e também pelo fato de muitos dos meus amigos já terem ido antes, ou seja, sabíamos exatamente o que era necessário levar, como por exemplo, 5 litros de água por dia, por pessoa! Da próxima vez, quero ficar 1 semana!
Alguma experiência por lá te surpreendeu? Conte mais sobre elas.
O que mais me surpreendeu foi o tamanho do AfrikaBurn! É imenso. O que também me surpreendeu foi a boa vontade das pessoas que conheci e como é fácil conhecer novas pessoas de vários lugares do mundo. O número de estrangeiros no festival tanbém me surpreendeu muito!
Como era a interação das pessoas? Como foram os presentes dados ou recebidos?
Todas as pessoas foram super amigáveis, quase em um ritmo “Paz & Amor”. Eu recebi alguns gifts, mas o melhor de todos foi provavelmente uma jaqueta quando eu estava com muito frio!
Que lições e aprendizados você trouxe com você depois de ter participado do AfrikaBurn?
Quando voltei, senti apenas um arrependimento: de não ter explorado mais! Muitos acampamentos preparam coisas muito bacanas como shows de música ao vivo, workshops para ensinar algo, etc. Sinto que vi muito, mas não consegui ver tudo!
Que aspectos do AfrikaBurn você gostaria de trazer para o seu dia a dia?
Com certeza é a habilidade de apreciar mais as coisas pequenas na vida. Nós vivemos vidas muito corridas onde o objetivo é ir de A para B o mais rápido possível. O problema é que perdemos a habilidade de apreciar o que está no caminho entre A e B, mesmo que sejam coiss pequenas.
Para quem você recomendaria o AfrikaBurn?
Recomendaria o AfrikaBurn para todo mundo que tem mente aberta ou que gostaria de abrir mais a mente e ver coisas novas!
Quais conselhos daria para pessoas interessadas em curtir o festival nos próximos anos?
– Leve muita água!
– Vá com um grupo legal de pessoas que você conhece bem – isso fará toda a diferença!
– Leve fantasias/roupas malucas! Foi super legal pensar e criar fantasias legais antes de ir!
– Esse ano foi um ano quente, mas normalmente dizem que faz muito frio, então leve pelo menos um casaco quente!
– Leve uma laterna – é muito escuro á noite.
– Leve uma camera digital (não celular, pois será difícil carregá-lo) para guardar todos os momentos!
Foto do cabeçalho: Jolene Thompson