Outubro 9

Culinária da África do Sul | Um caldeirão de sabores e culturas

Por Nathalia Marangoni em
Outubro 9, 2017

Conhecida como a Nação Arco-Íris, a África do Sul é celebrada por ser um verdadeiro caldeirão cultural, abrigando 11 línguas oficiais e uma riqueza histórica inestimável. Esta diversidade se reflete em sua culinária cheia de sabores e influências de outros países, mesclada com os saberes tradicionais de grupos étnicos como os Khoisan, Zulu, Xhosa e Sotho.

Enquanto muitos pratos considerados típicos do país nos dias de hoje não possam ser considerados 100% sul-africanos, a sutil adaptação de receitas estrangeiras, preparadas a partir de ingredientes locais, somada à introdução de técnicas inovadoras foram responsáveis por moldar a culinária moderna da África do Sul e transformá-la em uma cozinha autêntica e intrigante.

Esta é a opinião de Magdaleen Van Wyk e Pat Barton, autoras do livro “Traditional South African Cooking”, que reúne uma série de receitas tradicionais sul-africanas, repertório que, segundo elas, não pode ser separado da história do país. Também pudera:  a culinária local é um caldeirão de contribuições de povos de diferentes partes do mundo.

Na introdução do livro, Van Wyk e Barton destacam as contribuições dos primeiros colonos que chegaram ao Cabo, bem como as experimentações com carne de caça realizadas nas fazendas do interior. Também pincelam alguns detalhes sobre o legado de imigrantes franceses, alemães e britânicos, trabalhadores indianos e escravos vindos do Oriente – especialmente os malaios – e imigrantes de países africanos como Angola e Moçambique. Portugueses e gregos também deixaram sua marca na cozinha local.

Culinária da África do Sul: Cozinha Afrikaans

Potjiekos, prato da culinária da África do Sul
Potjiekos / Foto: Food24

Influências alemãs, francesa e holandesas moldaram o que hoje se conhece como culinária Afrikaans. Segundo as autoras do livro, os primeiros colonos holandeses trouxeram consigo receitas e métodos de culinária que ainda são usados no país atualmente. Um exemplo disto é o hábito de servir vegetais refogados na manteiga e salpicados com noz-moscada moída, acompanhados de carne cozida com ervas e especiarias.

A principal contribuição dos huguenotes franceses se deve às melhorias implementadas na cultura das vinhas e na produção de frutas. Seus métodos de refinamento de passas, bem como de produção de geleias a partir de frutas locais ainda podem ser vistos nas conservas sul-africanas chamadas de konfyt. Dos alemães, os sul-africanos herdaram a paixão pelo wurst picante, uma espécie de salsicha picante que pode ser encontrada nos dias de hoje em uma gama de receitas de boerewors e caçarolas.

Os colonos britânicos, por sua vez, introduziram carnes assados, em particular a bovina, que ainda é o prato preferido dos sul-africanos aos domingos, sendo servidos com batatas assadas e pudim de Yorkshire. Peixe e fritas, tortas salgadas, roly poly, pudim de arroz e outras sobremesas cozidos a vapor também são servidas no país e têm influência britânica.

  • Comidas típicas: carne vermelha (grelhada, assada ou na brasa), batatas e/ou arroz, vegetais refogados na manteiga e açúcar. Sobremesas incluem biscoitos e bolos açucarados. O braai afrikaans são geralmente compostos por salsichas apimentadas, costeletas, kebabs, bifes e torresmos. Acompanhamentos ficam por conta de pãezinhos e diferentes tipos de salada.

Culinária da África do Sul: Cozinha africana

Umngqusho, prato da culinária da África do Sul
Umngqusho, ou samp com feijão / Foto: Pick n Pay

Tão importantes quanto as contribuições dos imigrantes europeus na edificação da cozinha local são as heranças da culinária africana, que pode ser comparada com um grande guarda-chuva que abriga a cultura dos Zulu, Xhosa, Sotho, Tswana e outros povos indígenas que por séculos habitaram a África. A gastronomia africana evoluiu ao longo dos anos, mas preservou a utilização de muitos ingredientes originais e métodos de culinária tradicionais, o que é visto até os dias de hoje, especialmente nas áreas rurais.

Muito disto se deve ao fato de que as tribos indígenas africanas extraíam seu sustento da terra, ou seja, seus alimentos eram preparados a partir do que estava disponível na natureza ou era cultivado localmente. Milho, arroz e batatas, juntamente com vegetais de cor verde-escura, como espinafre e couve, além de repolho e abóbora compõem a base dos pratos, que são geralmente servidos com carnes, preparadas em forma de guisado ou outras receitas cozidas em uma só panela.

  • Pratos típicos: tripas, mieliepap (mingau à base de milho geralmente fortificado com gordura animal, acompanhado de feijão e vegetais), samp e feijão, mingau de leite azedo, bolinhos fritos chamados de “dumplings”.

Culinária da África do Sul: Cozinha malaia

Bobotie, prato da culinária da África do Sul
Bobotie de lentilha e abóbora / Foto: Pick n Pay

Como mencionamos em nosso post “5 restaurantes africanos tradicionais em Cape Town”, a comunidade Cape Malay também figura como um componente chave na construção da identidade, cultura e gastronomia sul-africana, sobretudo na província do Cabo Ocidental e em Cape Town. Os malaios foram trazidos para o país como escravos para os colonos europeus nos séculos 17, 18 e 19, carregando consigo uma culinária excitante e elaborada.

Devido a dificuldades enfrentadas durante o Apartheid e os séculos de escravidão, a comunidade Cape Malay se manteve unida e fortaleceu sua cultura por meio da gastronomia e da adaptação de seus pratos com a influência de outras culturas e ingredientes locais. Extremamente aromática, a cozinha malaia é marcada pelo uso de especiarias como cominho, coentro, anis estrelado, cardamomo, canela e açafrão, que compõem pratos encorpados e calorosos, como curries e guisados.

  • Pratos típicos: peixe em conserva, curry, bobotie, sosatie, bredie de tomate, dhaltjies e variados tipos de ensopado.

Ficou com água na boca para provar os pratos acima? Não deixe de visitar outros artigos de nosso blog sobre culinária na África do Sul.


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Sobre o autor

Nathalia Marangoni

Nascida e criada na cidade mais populosa da América Latina, São Paulo, Nathalia tinha 13 anos quando ouviu pela primeira sobre Cape Town em um programa de TV. Depois de estudar Jornalismo, ela trabalhou por alguns anos em uma ONG dedicada ao empoderamento e empreendedorismo feminino, o que lhe permitiu viajar por diferentes regiões do Brasil, entrevistando e fotografando mulheres muito fortes. A experiência levou Nathalia a se sentir confiante o suficiente para se mudar de sua cidade natal e, finalmente, ver Cape Town com seus próprios olhos: um desejo antigo que dividiu águas em sua vida.

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