As semelhanças entre Brasil e África do Sul são inegáveis: ambos são países em desenvolvimento considerados nações Arco-Íris, foram anfitriões de Copas do Mundo da FIFA em anos recentes, abrigam cidades de todos os tipos – desde as de tirar o fôlego como Rio de Janeiro e Cape Town, até grandes centros urbanos e culturais como São Paulo e Joanesburgo –, têm em sua história períodos obscuros de colonização e escravidão e, sobretudo, são habitados por uma população bastante calorosa e receptiva.
Para celebrar esta conexão, criamos uma lista de similaridades históricas, culturais, naturais e estéticas que unem estes dois vibrantes países e os tornam tão intrigantes. Caso tenhamos esquecido de alguma semelhança, deixe seu comentário abaixo e sinta-se à vontade para traçar ainda mais paralelos entre os dois, pois temos certeza que temos muito mais em comum do que imaginamos!
Anfitriões da Copa do Mundo
Brasil e África do Sul foram anfitriões da Copa do Mundo de Futebol da Fifa em 2014 e 2010 respectivamente. Tanto no país latino-americano quanto no africano, a competição foi considerada um sucesso pelos turistas, muito em parte graças à hospitalidade e recepção calorosa de seus povos.
Ainda que nenhum dos países tenha se sagrado campeão, a ampla cobertura online dos eventos trouxe um pouco de alegria a brasileiros e sul-africanos que, em uma era extremamente digital, compartilharam memes bem-humorados sobre vuvuzelas, Jabulanis, 7x1s e até a roupa da Cláudia Leite para superar a dor de serem eliminados em seus próprios países.
O evento também foi alvo de críticas e suspeitas em ambas as nações. No Brasil, protestos foram noticiados amplamente em meios de comunicação internacionais, a maioria deles envolvendo a remoção forçada de moradores de comunidades situadas nas regiões dos jogos, denúncias de corrupção e superfaturamento na construção e revitalização de estádios e a morte de funcionários durante as obras.
Na África do Sul, os protestos talvez tenham sido menos divulgados, porém, aconteceram. Os motivos não foram muito diferentes: protestantes em diversas cidades do país se mostraram preocupados com a quantidade de dinheiro gasto para a construção de estádios e revoltados com o tratamento recebido pelos trabalhadores durante as obras, clamando pelas ruas “Get out Fifa Mafia!”.
Exploração portuguesa
Os primeiros europeus a chegarem à região que hoje é conhecida como Cape Town foram portugueses. Em 1488, o explorador Bartolomeu Dias navegou em torno da ponta mais ao sul da África (Cabo das Agulhas, nome dado por ele ao notar que a agulha de sua bússola não variava entre o norte verdadeiro e o norte magnético enquanto navegava pela região) chegando ao Oceano Índico a partir do Atlântico. Seu objetivo era encontrar uma rota comercial para as índias – que na época significava oriente e abarcava tanto a atual Índia como China e mesmo Japão.
Não só foi o primeiro europeu a percorrer esta rota, como foi a primeira pessoa a mencionar a região de Cape Town em registros escritos. Outro fato interessante é que o nome Table Mountain, ou Montanha da Mesa, foi criado pelo explorador português Antônio de Saldanha, que a chamou de “Taboa da caba”, ou “mesa do cabo”. O Cabo da Boa Esperança foi rebatizado por D. João II, rei de Portugal. Inicialmente, Dias havia o chamado de Cabo das Tormentas. Por estarem na vanguarda da exploração europeia no exterior, os portugueses mapearam e batizaram outros lugares ao longo da costa africana.
Da mesma forma, os primeiros europeus a chegarem na região que hoje é denominada como Brasil eram portugueses. No entanto, diferente do que é amplamento divulgado, não foi Pedro Alvares Cabral o primeiro português a desembarcar em terras tupiniquins. Na verdade, uma frota de oito navios sob o comando de Duarte Pacheco Pereira chegou ao litoral brasileiro em 1498, explorando à altura dos atuais Estados do Pará e do Maranhão.
Colonização
A colonização portuguesa no Brasil não aconteceu logo em 1500, com a chegada de Cabral. Trinta anos se passaram até que o portugueses decidissem dividir o território. Até então, os portugueses limitavam sua atuação a atividades de extração do pau-brasil no litoral brasileiro em colaboração com os índios em um sistema de “escambo”: os índios derrubavam e armazenavam a madeira e, em troca, recebiam produtos trazidos da Europa. Notando a necessidade de fortalecer sua presença na região para evitar invasões de outros povos europeus e enfrentar a resistência indígena os portugueses dividiram o território em Capitanias Hereditárias.
Esta forma de administração caiu em descrédito em 1549, quando Portugal decidiu centralizar o poder. As capitanias não desapareceram imediatamente, mas ficaram sob o controle de um Governo Geral. Além da criação de um Estado centralizador, em 1544, os portugueses trouxeram padres jesuítas com a missão de catequizar os índios, uma ferramenta de controle das tribos que garantiria a continuidade da colônia sob uma supremacia católica. Diversas tribos indígenas, no entanto, foram resistentes e se rebelaram contra as práticas, mas a superioridade militar dos portugueses e as dificuldades de unificação das tribos se mostrou um fator preponderante para a efetividade da dominação portuguesa.
Apesar de os portugueses terem sido os primeiros europeus a chegarem a Cape Town, foram os holandeses que fundaram a cidade. Em 1652, o holandês Jan van Riebeeck, administrador da Companhia Holandesa das Índias Orientais, criou a Colônia Holandesa do Cabo. Até então, a região era usada como um posto de reabastecimento para os europeus que navegavam em direção às índias. A colonização da região foi disputada: entre os séculos XVII e XVIII, colonos calvinistas dos Países Baixos, Alemanha e França – cujos descendentes seriam chamados de bôeres ou africâneres posteriormente – passaram a habitar o local, mas não foram bem sucedidos na colonização dos povos khoikhoi e san, o que culminou no quase extermínio destes grupos e motivou a importação de escravos de países como Madagáscar, Indonésia e Índia.
Os britânicos tomaram posse do território por duas vezes – durante a Guerra Anglo-Holandesa, entre 1795 e 1802 e novamente em 1806. A escravidão foi abolida, mas as práticas coloniais de opressão e extermínio estavam longe de acabar. Insatisfeitos com a abolição, os holandeses emigraram para regiões fora do controle britânico. Depois de conflitos sangrentos com os zulus na Batalha de Blood River, fundaram o Estado Livre de Orange e Transvaal na metade do século XIX. Enquanto isto, os britânicos travavam conflitos com os xhosas, na fronteira leste do território e com os zulu, a oeste.
A descoberta de jazidas de diamante e ouro nas regiões das repúblicas bôeres provocou a eclosão de dois confrontos armados entre africâneres e britânicos, as chamadas Guerras dos Bôeres. Ao final do segundo confronto (1899-1902), os britânicos puderam se afirmar e sua soberania foi reconhecida em 1902, pelo Tratado de Vereeniging. Em 1910, foi fundada a União Sul-Africana, iniciativa que anexou as Colônias do Cabo, Transvaal, Estado Livre de Orange e Natal, centralizando o poder do território entre os brancos e destituindo a população negra de qualquer direito ou representação política. Não demorou muito para que as primeiras leis de segregação racial fossem colocadas em prática.
Escravidão
Brasil e África do Sul também têm em comum o fato de seus colonizadores terem se beneficiado de um sistema escravista para manutenção do poder, detenção dos recursos de produção e ampliação da exploração das terras. Na África do Sul, os colonos holandeses sofreram com a falta de mão-de-obra, especialmente nas fazendas de trigo e vinho. A solução natural teria sido trazer trabalhadores europeus, o que lhes custaria muito, ou escravizar o povo khoikhoi, no entanto, estes lhes forneciam gado e resistiam a abandonar seu estilo de vida pastoralista.
Como já estavam envolvidos no comércio de escravos do Atlântico, os holandeses traficaram escravos de uma série de lugares, incluindo da costa leste africana (Moçambique e Magascar) e regiões ao sul e sudeste da Ásia, cujos descendentes seriam chamados posteriormente de malaios do Cabo. O período de escravidão durou entre 1658 e 1834, o que não significou o fim do sofrimento da população escravizada, cujos descendentes continuariam a enfrentar dificuldades nos anos posteriores e durante o regime do Apartheid.
No Brasil, os primeiros povos a serem escravizados por portugueses foram os indígenas, já no início da colonização. No entanto, a experiência não foi considerada bem sucedida, pois os índios viviam em uma economia de subsistência e não estavam acostumados a uma rotina pesada de trabalho. Eram também extremamente vulneráveis às doenças trazidas pelos europeus e, por isto, tinham uma expectativa de vida muito baixa quando submetidos ao trabalho escravo. Apesar de o governo de Portugal ter criado leis que proibiam a escravidão indígena, a prática continuou acontecendo, mesmo depois da chegada da população escravizada africana.
Interessados em lucrar com a produção e comercialização de açúcar, os portugueses decidiram traficar escravos capturados na África. Entre 1501 e 1866, mais de 5,5 milhões de africanos foram forçados a embarcar em terras brasileiras para trabalhar em condições precárias e degradantes. Destes, 3,86 milhões vieram do centro-oeste africano, onde hoje estão situados a Angola e a República Democrática do Congo. Outros 877 mil eram provenientes da chamada Costa da Mina, que inclui parte dos atuais Gana, Togo, Benim e Nigéria.
Ainda que um regime de apartheid não tenha acontecido no Brasil, não houve esforço para integrar africanos e seus descendentes escravizados à sociedade após a abolição da escravatura. Ou seja, estes grupos foram marginalizados, bem com os indígenas, e sua liberdade não lhes garantiu a detenção de meios de produção ou o direito à terra. A abolição “inconclusa” da escravidão contribui, até os dias de hoje, para que os índices de desigualdade social sejam tão altos nos dois países. Em 2017, as Nações Unidas divulgaram o Relatório de Desenvolvimento Humano que apontou a África do Sul como o país mais desigual do mundo; o Brasil ficou em décimo lugar no ranking.
Rio de Janeiro e Cape Town
É comum que os visitantes que sobrevoam a Cidade Maravilhosa ou a Mother City se apaixonem à primeira vista quando avistam o Corcovado ou a Table Mountain da janela do avião. Ambas as cidades enfeitiçam turistas anualmente por suas paisagens icônicas, praias, estilo de vida descontraído, belezas naturais, vida noturna e atmosfera cosmopolita.
Ainda que as temperaturas sejam diferentes durante o ano em Cape Town e Rio de Janeiro, os turistas raramente costumam se esquecer das experiências incríveis que ambas as cidades têm a oferecer. Além de serem visualmente parecidas, ambas abrigam montanhas icônicas, batizadas por exploradores portugueses: a Table Mountain, que já falamos a respeito neste post, e o Pão de Açúcar.
As cidades também têm em comum o fato de estarem próximas a ilhas que abrigaram prisões no passado; em Cape Town, a Robben Island e, no Rio de Janeiro, a Ilha Grande.. Elas também possuem grandes favelas ou townships: a Rocinha, no Rio de Janeiro, é considerada a maior favela do Brasil. Khayelitscha, em Cape Town, não é a maior township da África do Sul, mas é considerada a que cresce mais rapidamente no país.
São Paulo e Joanesburgo
Respectivamente as maiores cidades do Brasil e África do Sul, São Paulo e Joanesburgo também compartilham semelhanças e belezas particulares, surpreendendo seus visitantes com bons serviços, vida noturna e cultural intensa, festivais e eventos de grande porte e um mercado de trabalho bastante competitivo. Em “The Evolving Spatial Form of Cities in a Globalising World Economy”, o autor Martin Murray nota que as semelhanças entre São Paulo e Joanesburgo remontam ao passado.
Ambas as cidades exibiram padrões semelhantes de transformação econômica no final do séxulo XX, o que incluiu uma forte concentração e centralização industrial e fabril para a garantia de seu bem-estar econômico. As cidades enfrentaram desafios similares em aspectos como reestruturação indústrial, informalidade trabalhista e o influxo constante de novos imigrantes. Tanto a Cidade do Ouro quando a Terra da Garoa transformaram-se de centros industriais e fabris para megalópolis focadas em negócios e finanças.
Parceiros de BRICS
O termo Bric foi cunhado em 2001 pelo ex-economista chefe da Goldman Sachs Jim O’Neill. Originalmente, o acrônimo fazia referência a Brasil, Rússia, Índia e China, considerados naquele momento forças econômicas globais em potencial. Dez anos depois, a África do Sul aderiu ao grupo, que passou a ser chamado de Brics.
Em entrevista dada à BBC em setembro de 2017, O’Neill afirmou que a ideia dos Brics “perdura”, porém, foi enfático ao dizer que Brasil e Rússia se revelaram “grandes decepções” por apresentarem crescimento abaixo da média mundial. Ainda que a China continue crescendo, seu desempenho também está abaixo do registrado no ano passado.
Ainda que menos forte e opulento do que era previsto em 2001, o Brics continua se reunindo anualmente. Entre os dias 3 e 5 de setembro de 2017, ocorreu a 9º Reunião de Cúpula dos BRICS, em Xiamen, na China, com uma novidade: outros Estados como Tailândia, México e Indonésia foram convidados a participar do evento, sinal de que o grupo pode ser expandido.
Maravilhas Naturais
A 7New Wonders of Nature, em português Sete Novas Maravilhas Naturais do Mundo, foi uma campanha promovida pela Fundação New7Wonders entre 2007 e 2011 que selecionou as sete novas maravilhas naturais do mundo. Mais de 100 milhões de fotos foram recebidos de todo o mundo.
O Brasil apareceu na lista duas vezes por abrigar a Floresta Amazônica e o Rio Amazonas (com Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana Francesa, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela) e as Cataratas do Iguaçu (com a Argentina). A África do Sul abocanhou uma vaga na lista graças à sua majestosa Table Mountain. Ainda que estas belezas naturais sejam bem diferentes umas das outras, o fato de os países aparecerem em uma lista tão aclamada mostra a diversidade e magnitude de seus ecossistemas e paisagens.
Paixão pela carne
A paixão pela carne também une brasileiros e sul-africanos. No Brasil, diz-se que a tradição do churrasco surgiu com os tropeiros, que viajavam em direção ao sul do Brasil para o comercializar uma gama de produtos. Enquanto realizavam as viagens, eles perceberam que a carne de gado era um alimento conveniente e prático a ser consumido, sendo necessário apenas cortar, temperar e assar a carne. Apesar de a prática ter se popularizado com os tropeiros, os povos indígenas da América do Sul já tinham o costume de se deliciar com alimentos assados na brasa.
Na África do Sul, churrasco é chamado de “braai”, uma palavra de origem africâner que significa carne assada. Apesar de ter sido popularizada entre os africâneres, a prática foi adotada por grupos de todas as etnias no país, sendo uma celebração social muito popular, que até tem seu dia próprio no calendário nacional: 24 de setembro ou Braai4Heritage. Tanto no Brasil quanto na África do Sul, o preparo da carne costuma ser realizado pelos homens, enquanto as mulheres usualmente são responsáveis por acompanhamentos como salada, arroz, farofa, vinagrete, chakalakha e pap.
Vivencie as diferenças!
Se você tem interesse em viajar para África do Sul para vivenciar estas semelhanças e gostaria de saber mais sobre este excitante destino, temos duas dicas para você: entre em contato com nossos consultores de viagem e solicite um orçamento gratuito, sem compromisso, e leia outros artigos nossos sobre a Rainbow Nation e sua vibrante cultura:
Quanto mais leio e me informo a respeito da África do Sul, percebo cada vez mais as semelhanças com o Brasil. Sem dúvidas Cape Town e as demais cidades do país estão entre os destinos que faço questão de priorizar em minhas futuras viagens.
Parabéns pela publicação e pelo trabalho!
Esperamos ver você por aqui em breve, Idalino! Um grande abraço 🙂
Moro em Cape Town faz 5 anos com a família toda e tenho ficado triste com a enxurrada de Brasileiros visitando o país – se intitulam especialistas em Cape Town depois de passarem 5 dias na cidade e que espalham “desinformação” (selfie na “ponta da Africa” no Cabo da Boa Esperança dizendo estar na ponta do continente, quando a ponta é Cabo Agulhas) e muitas vezes informações que podem colocar o turista desavisado numa roubada (ex. não esqueça de levar garrafas de vinho para a praia, sendo que em Cape Town, na sua enorme maioria, não se pode beber álcool nas praias e maioria dos locais públicos).
Seu blog me pareceu um oásis neste oceano de palpiteiros. Bem escrito, bonito e cheio de coisas relevantes. 🙂
Oi Eduardo, muitíssimo obrigada pelo seu comentário! 🙂
Ficamos muito felizes em saber que você está gostando do conteúdo do blog e que ele tem sido útil ou relevante pra você — é esse o nosso objetivo. E um elogio vindo de alguém que já conhece a cidade e a tem como segunda casa é uma verdadeira honra! Um grande abraço e esperamos ver mais comentários seus por aqui.
Adorei a semelhança se eu pudesse iria hoje mesmo conhecer. Obrigado pela ótima matéria.